terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

As Redes Sociais nas Escolas

‘Escola deve usar redes sociais com foco educativo’, diz especialista

Educadores debatem tema em congresso de tecnologia no Recife.
Para eles, não se deve misturar contas pessoais com as de estudo.

Quando se trata de novas alternativas no processo de aprendizagem para agradar a geração pós-Internet, começa a existir um consenso entre os educadores: não adianta ir contra a maré do fenômeno das redes sociais. O assunto, que ainda provoca muita polêmica dentro e fora dos meios digitais, foi tema de palestras e minicursos durante o 10º Congresso Internacional de Tecnologia na Educação, realizado no Centro de Convenções de Pernambuco, em Olinda, nesta quarta-feira (5).
No evento, foi apresentada uma rede social totalmente voltada para fins educativos, a Redu, desenvolvida por uma startup recifense incubada no parque tecnólogico do Porto Digital, na capital pernambucana.

"Existe uma necessidade social que não pode ser ignorada pelos educadores. Precisamos adaptá-la para as salas de aula. Os próprios professores não utilizam as redes sociais entre si. Se conseguíssemos incluí-las já no currículo da formação inicial dos docentes, seria ideal. A vida da escola não pode ser separada da nossa vida social. Uma faz parte da outra", opina a sergipana Rosana Cavalcanti Maia Santos, 24 anos, mestranda em Educação para as Ciências e graduada em Física pela Universidade Estadual Paulista Julio de Mesquita Filho (Unesp).
Com a polêmica gerada em razão do "Diário de Classe", elaborado pela estudante Isadora Faber, de 13 anos, que conseguiu, por meio das redes sociais, pressionar o governo para conseguir melhorias importantes em sua escola, desde o final de agosto, o tema foi um dos destaques do evento. O sucesso da iniciativa da aluna, que conseguiu uma reforma de emergência na escola onde estuda e uniu pais, alunos e professores, tem servido de inspiração para crianças, adolescentes e jovens de todas as partes do país.

O grande desafio na utilização das redes sociais para integrar a relação entre alunos e professores ainda é a falta de conhecimento dos próprios educadores e dirigentes das escolas que, em geral, não sabem usar as ferramentas em favor da educação. "O professor não é mais o único detentor da informação. Ele tem de aprender a conviver com isso e precisa ter a noção de que não sabe tudo. É uma área que ainda terá muitos desafios pela frente", diz Rosana.

Bacharel em Física, Maia relatou à reportagem do G1 que, inclusive, já recebeu reprimendas em razão de ter usado a tecnologia para inovar em sala de aula. "A diretora da escola bloqueava o uso que eu fazia de tecnologias com os estudantes, por exemplo. Uma vez quis fazer uma aula interdisciplinar. Apresentei um powerpoint e um vídeo, explicando como era feita a curva num chute de uma partida de futebol, para sete alunos que estavam na recuperação e já não aguentavam mais fazer as mesmas questões. Levei uma bronca por conta disso", afirmou.

A resistência ainda é um empecilho para os que querem inovar --mas a inserção no mundo das redes sociais é um caminho sem volta, segundo o especialista no assunto, Alex Sandro Gomes, Doutor em Ciências da Educação pela Universidade de Paris V, Mestre e Especialista em Psicologia Cognitiva pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e graduado em Engenharia Elétrica também pela UFPE. "Para a escola continuar desenvolvendo o conhecimento das pessoas, terá de se apropriar deste novo artefacto".

"Em primeiro lugar o professor tem de se apropriar da situação. E por que há a adesão nas redes sociais? Porque as pessoas criam grupos. É preciso criar uma relação didática com a comunidade. Ao criar uma rede de relacionamentos, eu posso dispor de material informal antecipadamente que vai ser passado nas próximas aulas. Se eu fizer isso, já crio uma consciência e um novo canal de contato com o aluno. Sem falar que posso permitir que os alunos tragam novos materiais. E posso deixar que eles discutam os temas depois das aulas. Assim, o professor legitima o papel do estudante na aprendizagem", aponta o estudioso.

"Na sala de aula, a comunicação é de um (professor) para muitos (alunos). As redes sociais devem proporcionar formas de comunicação que aproximem professores e alunos. Atualmente, todos precisam, juntos, aprender a aprender. A mediação do professor em redes sociais tem um papel diferente. É possível se trabalhar no foco dos problemas e dúvidas com o monitoramento. Agindo com mais ênfase, por exemplo, no que a turma mais precisa (e de acordo com as notas)".

Dispersão dentro e fora da sala de aula
Em rede sociais genéricas, como o Facebook, o Twitter, o Pinterest e o app Instagram, o especialista desaconselha o uso de materiais das aulas pelo risco da dispersão. "Aconselho o uso de redes sociais como a Redu, totalmente voltada para fins educativos. Quando um aluno usa a sua conta pessoal, do âmbito privado, vai estar se comunicando e compartilhando informações com todas as outras relações dele. Isso gera a dispersão", explica Alex.

Com relação ao excesso de exposição e à falta de privacidade, que podem interferir na relação entre professor e aluno, Maia também concorda que há limites. "Acho que, antes de se criar essa relação, é preciso impor limites e respeito em relação ao professor. Eu faria um perfil exclusivo meu para lidar com os alunos, separando-os da esfera da minha vida pessoal. Se misturar tudo, acredito que fica um pouco complicado. A relação via redes sociais é favorável, mas é preciso ter limites", diz.

Vantagens das redes sociaisConfira algumas das vantagens apontadas pelo professor Alex Sandro Gomes, palestrante do congresso, no uso de redes sociais em sala de aula:

1) As redes sociais educativas permitem que o professor monitore as atividades em sala de aula e acompanhe melhor o rendimento dos alunos, de acordo com as disciplinas que eles estão tendo mais dificuldade ou se dando melhor;

2) As redes sociais educativas permitem ao professor ser o autor do seu planejamento. O professor é um mediador. E a tecnologia tem de permitir que ele seja um autor deste conteúdo também. O docente deve organizar melhor as sequências de aulas e materiais;

3) As redes sociais educativas ajudam no desenvolvimento da autonomia entre os estudantes  (também chamada de auto-regulação). Neste ambiente, o aluno experimenta uma diversidade de situações e precisa aprender que é preciso ter disciplina para exercitar essa autonomia.

Fonte: http://g1.globo.com/pernambuco/vestibular-e-educacao/noticia/2012/09/rede-social-educativa-e-destaque-em-congresso-de-tecnologia-no-recife.html

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